ATUAL   HISTÓRICO

SECRETARIA MUNICIPAL DE CULTURA DE SÃO PAULO E FUNDAÇÃO STICKEL APRESENTAM

Walter Benjamin, em seu texto “Pequena História da Fotografia”, de 1931, citando o artista húngaro László Moholy-Nagy, um dos expoentes da Bauhaus, lembra que “o analfabeto do futuro não será quem não sabe escrever, e sim quem não sabe fotografar”.

A partir dessa ideia é que penso a importância dos cursos oferecidos e desenvolvidos pela Fundação Stickel à comunidade paulistana, em particular os moradores do bairro Vila Nova Cachoeirinha.

Entre 2019 e 2022, inclusive no duro período da pandemia provocado pelo vírus da Covid-19, foram realizados cursos presenciais e on-line, com orientação dos fotógrafos e educadores Andrea Saraiva e Lucas Cruz. A ideia foi despertar a sensibilidade para os aspectos urbanos e humanos do cotidiano, com a intenção de desenvolver um olhar crítico e afetivo sobre um território periférico da metrópole paulistana.

Os cursos reuniram jovens, adultos e idosos de ambos os sexos. Um amplo recorte etário que evidencia o desejo de participar de cursos que estimulam o aprendizado e o aprofundamento da técnica e da linguagem fotográfica. Uma experiência que alavanca o interesse profissionalizante de alguns alunos e, por outro lado, amplia o conhecimento propagado em sala de aula pelos professores que ativam a participação de todos nas atividades práticas. E também atende aqueles alunos que desejam navegar pelo mundo da arte – expandir os horizontes do ponto de vista estético.

O resultado é esta exposição no Espaço Fundação Stickel – 120 imagens reunidas que circunscrevem as inúmeras possibilidades

da fotografia: o flagrante e o movimento nas ruas, o retrato e a paisagem, os exercícios no estúdio, as cores exuberantes e os grafismos que vibram no cotidiano.

Com o advento das novas tecnologias de imagem, particularmente os smarthphones, todos, indistintamente, se habilitaram para tirar fotografias. Essa democratização, preconizada há quase 100 anos, finalmente se concretizou. “Fotografamos o que vemos e o que vemos depende do que somos”, escreveu José Medeiros, um dos grandes nomes do fotojornalismo da revista O Cruzeiro.

Com a tecnologia contemporânea, a fotografia empoderou o cidadão comum a olhar para o seu mundo com admiração e espanto, com crítica e denúncia. A imagem que perpassa diariamente pelos nossos olhos agora é uma espécie de exaltação ao visível e de resistência diante da violência e das injustiças seculares. Olhares de toda ordem que passam a ver e perceber subjetivamente a realidade exterior e que acende uma chama de esperança objetiva. A fotografia possibilita essa autoimagem que busca refletir sobre a autoestima, a inclusão e o fortalecimento da identidade.

Os cursos promovidos pela Fundação Stickel legitimam a fotografia como uma potencial propagadora de ideias, que torna visível as diferenças sociais e culturais. Uma experiência sensível que, independentemente de valores e repertório, qualifica qualquer cidadão que fotografa, seja como forma de contestação, seja como invenção de uma beleza possível.

Rubens Fernandes Junior
pesquisador e curador de fotografia

Esta exposição faz parte da programação do FACES – 2º Festival de Arte e Cultura Erico Stickel.

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